Amor Excessivo é Prejudicial à Saúde

Pintura de Chagall
Caros amigos amantes, atenção: o amor excessivo é prejudicial à saúde! Isso é o que deveria ser estampado nas caixas de bombons. Aliás, fixado não só nas caixinhas chocolate, tão valorizadas pelos casais apaixonados; nas de leite, polpa de tomate, aveia, sedex e qualquer outra que possa atingir o público enamorado e futuros amantes também. Não estou dizendo que ninguém poderá mais amar, nada de radicalismos; só que utilizem o amor com moderação. Alô, Alô, Ministério da Saúde, advirta esse novo inimigo moderno.

Foi comprovado que amor em demasia acarreta sérios riscos à saúde de quem ama. O amor libera uma substância ativa que age diretamente no cérebro, e faz com que os amantes tenham mais ânimo, mais força de vontade e mais alegria de viver. Até aí, tudo bem, o mundo é cor de rosa e a psicologia vai bem. Só que existe o lado negro da força. Em contra partida, essa química tem o mesmo efeito de uma droga alucinógena, viciando seus consumidores incautos. Isso explica os diversos amantes que são alcunhados de chicletinhos; que telefonam ininterruptamente, consomem-se em lágrimas e uma saudade imensa como de anos de espera os arrebata quando longe do outro. Se não correspondidos, entram em um clima de ultra-romantismo do século dezenove, proveniente da solidão aguda. Sofrem os efeitos da separação e tornam-se caixas vazias, o que é pior. Essas caixas não possuem nada a não ser recordações tristes.

E os problemas são intermináveis para quem utiliza o amor como vício de vida. Quando um amante percebe o peso do desenlace, sente o mesmo efeito da fome. A necessidade do parceiro para se recompor é inexorável e nada, nada mesmo, fará com que entenda que as coisas, às vezes, devem ser rompidas ou jamais iniciadas.

A lei do amor é universal e comum. Um macho à procura de amor é submisso à fêmea, muitas vezes maior que ele. Nesta regra, o pretendente deve mostrar superioridade fazendo com que a futura parceira se encante com suas particularidades, diferenças e qualidades. Ao final do luar de paixão, o macho é descartado perdendo a própria vida. Assim acontece no reino dos aracnídeos e em todos os outros, como assisti em um documentário no canal National Geographic. Acabamos vítimas de nossos próprios sentimentos e desejos. É o exagero do amor, da necessidade de se amar. É o que a química do amor faz em nosso corpo. Quanto mais viciados, mais admiradores do vício nos tornamos, afinal, um vício como esse é indubitavelmente atraente e muitas vezes necessário.

E engana-se quem pensa que esse consumo de amor é coisa atual. Nossos antepassados também cultuavam esse vício com alguma regularidade (não estava lá para evr). Os homens das cavernas, por exemplo, ficavam tão cheios de amor que atacavam suas pretendentes a porretadas, mantendo-as para sempre ao seu lado.

Se pesquisarmos bem, encontraremos referências até na ficção. Eu mesmo já estudei o caso. Descobri desde novelas até clássicos literários que utilizam o veneno do amor como válvula de enredo. O mais recente foi o caso da novela das seis (que já acabou, pois quando escrevi esta crônica estava no final) propõe – amor excessivo. Lembram-se da Como uma onda, onde J.J, por uma paixão enlouquecida, sequestrou e aprisionou a sua grande amada, Nina, esperando que ela lhe desse um filho, mesmo sabendo do ódio que ela nutria por sua pessoa? Não sou noveleiro, que fique claro, mas este é o clássico sintoma da rejeição e da overdose de amor.

Outros também experimentaram a química fatal. Dom Quixote foi um deles. Ficou tão louco por Dorotéia de Toboso que acabou confundindo moinhos de vento com gigantes. E Bentinho, que depois de lutar tanto para ter Capitu em seus braços, entrou em choque após descobrir sua traição. Todas vítimas fatais do amor, grande vício e, em muitos casos, remédio, que desgraça uns e vivifica muitos. Porém, nenhum efeito se compara ao trágico final do conto A Cartomante, de nosso mestre Machado, onde o amado é tragicamente assassinado por se entregar ao vício da paixão e da traição. Como já dizia Bukowski: o amor é um cão dos diabos.

Apesar de tudo, elas dizem que não estão nem aí, são independentes, donas de seus próprios narizes. Eles confessam não desejarem relacionamentos sérios, apenas diversão à custa de lágrimas. No fundo, todos querem acordar ao lado de alguém que lhes diga o quanto são importantes, o quanto fazem falta, o quanto são belos e necessários. Sempre foi assim, e sempre será assim. Não há o que fazer. Todos almejam traficar este vício que amansa e liberta leões. Por isso, reitero: o amor causa dependência e prejudica não só a saúde de quem ama, mas a de quem se ama.

Coloquem outdoors, anúncios televisivos, radiofônicos, informações nas latas de leite condensado, nos pacotes de macarrão, sal, açúcar, nas garrafas de coca-cola e, sobretudo, nas garrafas de cerveja e bebidas alcoólicas, pois estas abrem portas para novos amores. Informem a todos sobre os males que o amor pode trazer. Uma vez contaminados com a química, jamais apreciarão outra coisa a não ser o repouso do corpo frio nos braços quentes da pessoa amada. E isso eu digo por experiência.

25 comentários:

Cássio Amaral disse...

Angel,

Chagall morreu de depressão depois que Bella morreu.

Mano, muito boa sua crônica. Adorei!

Grande abraço.

Muita luz e força.

P.s. Se pintar pelo sul vem na minha casa, estamos morando no litoral de Santa Catarina e e minha esposa.

Outro abração.

Edson Bueno de Camargo disse...

já diziam os gregos amor e pathos, "doença".

Bianca Issler disse...

que o amor me vicie, então, porque quero ser por completo dependente dele, dependente dos sentimentos.
quero chorar com muita tristeza, para depois rir com enorme alegria... quero saber a dor de perder cada amor, para saber valorizar mais os que vierem. quero, na tristeza, me doer toda e, na alegria, ser escrava do riso, para que eu saiba que, toda a vida, minha entrega foi completa! :)

Fabiola Oliveira disse...

O amor é um vício que eu quero traficar. É o vício que o mundo deveria prolongar.

Excelente visão. Leve, humorística e cheia de poesia.

És um excelente cronista e poeta.

Beijos.

Faffy

Taís disse...

Que bom que você conseguiu colocar seu blog no ar de novo, fico feliz!

"No fundo, todos querem acordar ao lado de alguém que lhes diga o quanto são importantes, o quanto fazem falta, o quanto são belos e necessários..." Isso é a mais pura verdade,porque eu acho que um amor tranquilo é mais agradável a longo prazo do que arrebatadoras paixões. Mas quem sabe, não é? O que é melhor para um pode não ser para outro.
Ultimamente tenho me estranhado com esse tema rsrs.
bjos

sonho disse...

Pois o amor é um vicio...muito mau...quando um deixa de amar...
Beijo d'anjo

Welberson Soares disse...

Eu me vicio sempre neste amor que nunca acaba.

Não quero clínicas d ereabilitação. Morrerei por ele e viverei por ele também.

Ótima tirada.

Abraços.

Caca disse...

Olá, Angel. O negócio é tão sério que a medicina já está tratando de desenvolver um medicamento com a finalidade de atingir esse ponto do cérebro que é afetado tenazmente pelo amor. A modenidade não pode conviver com esse tipo de "frescura" que atrapalha a produtividade de cada um e o lucro de uns poucos no final das contas. rsrs. Acho que vão combater "esse mal" com remédios, pode apostar nisso num futuro próximo. Eu , coincidentemente até fiz uma piadinha no meu blog (ontem) sobre esse tema. Abraço grande. Paz e bem.

Renata de Aragão Lopes disse...

Seu texto foi muito bem redigido, mas discordo, por completo, do conteúdo.

Amor é vida (e não vício).

Todos os exemplos, fictícios ou não, que você citou não são de amores, mas de patologias outras, diversas e até denomináveis.

Para as patologias há tratamento. Para os amores sadios, ainda que excessivos (não concebo amores que não sejam intensos), sequer deve haver prevenção! : )

Um abraço,
Doce de Lira

Anônimo disse...

Sinto que o autor desta crônica não é o mesmo autor do blog, talvez esteja também sob o efeito do "mal" que ele próprio adverte... especulações.
De qualquer modo, o aviso é muito válido, pena que não o li antes de conhecer ela...
Abraços Angel!

Ludmila S. disse...

Não concordo com a Renata. O autor está usando realidade, mas ficção. E ele mesmo diz que o vício cria a vida.

Achei excelente e de bom gosto.

Ame-mos mais.

Beijos

Camila de Souza disse...

Não acredito nas pesquisas científicas, mas acredito nos poetas. Se você disse está dito. Estou contigo e não abro!

Beijo, Angel.
Camila
ilimitada-mente.blogspot.com

Canto da Boca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Canto da Boca disse...

Já leste o livro, O Amor é uma Droga Pesada, da Maria Rita Kehl?

;)

Lara F. Oliveira disse...

Embora o amor não seja um vício, mas sim o efeito hormonal que ele proporciona, gostei do que você propôs na crônica. Belas imagens, inteligente montagem.

O amor é um vício que quero cotrabandear também.

Continurei te lendo.

Beijos

Anônimo disse...

Ah, pelo amor de Deus! O amor é um vício, sim. Todos os amantes morrem de amores. É uma química. Quem diz que não se vicia é porque jamais amou.

Gostei bastante do texto, especialmente da comparação que foi feita. O texto é todo ligado numa perfeição de ideias.

Abraços.

Jorge A. Barros disse...

Crônica literária puramente lírica.

Autor: 10

ABraços

Regina Gaiotto disse...

Olá, Angel

Seu blog está mais que lindo!

Já sofri do mal de amor; cheguei a emagrecer oito quilos em um mês.
Viciante e asfixiante, precisei de transferências psicanalíticas.
Como cantou o poeta Ataulfo Alves,
me corrijam se estiver equivocada: "Esses moços, pobres moços,/ ah, se soubessem o que eu sei/. Não amavam, não passavam/ por tudo o que já passei..." Beijos

Giardia disse...

Gostei,kkk
Linda semana, abraço.

O vaso de alabastro, é teu melhor, teu maior valor, tua preciosidade.
Teu coração, onde o Senhor colocou o amor, a bondade, a essência de Deus.
Este vaso, de onde provem, o bem, a benção , a virtude, o perdão, o amor.
De onde jorra como em cachoeira, os sentimentos, os sonhos, os sonhos de Deus...
Lá onde colocas as mais lindas flores, os mais preciosos ungüentos, o azeite da tua lampâda.
Onde temos que cuidar pra que as ervas daninhas não brotem, e sufoquem os sonhos.
Por lá costuma nascer ervas amargas, com espinhos, com visgo, difíceis de remover...
Mas o Senhor Deus do universo, ajuda-nos a manter a pureza, a suavidade, o perfume,
beleza, força e vigor neste canteiro, neste vaso de honra.
Donde podemos tirar as ofertas agradáveis, perfume aceito pelo Espírito Santo de Deus.
Ajuda-nos sempre Senhor a cuidar como desejas do nosso vaso, do meu coração,
que de lá saia o alabastro que possa eu ungir Teus pés, com amor e honra, aceitável a Ti.
Recebe me louvor, meu amor, perdoando-me e me fazendo digna de fazê-lo,
em nome de Jesus, amém.
♥♥♥

Kli disse...

Escrevo aqui, no tronco de uma árvore: Kli esteve aqui. É assim que a gente marca um lugar que visitou e que ficou marcado na memória.

... "é casado e possui três filhas..." será? Não se engane, meu amigo: quatro mulheres o possuem! (rs)
Abço.

Kli disse...

Escrevo aqui, no tronco de uma árvore: Kli esteve aqui. É assim que a gente marca um lugar que visitou e que ficou marcado na memória.

... "é casado e possui três filhas..." será? Não se engane, meu amigo: quatro mulheres o possuem! (rs)
Abço.

kell disse...

O amor pode sim ser um vício, um ácido corrosivo e ao mesmo tempo viciante. Mas nao existe apenas esse tipo de amor.
Dependento da forma como o sujeto do ato de amar se entende no mundo e entende a si mesmo enquanto indivíduo, o amor pode ser algo libertador e saudável.
Dizem que o amor é fundamentado no sentimento de posse que um amante exerce sobre o outro, e vice versa. Pois eu discordo, penso que o amor seja o extremo oposto do egoísmo e da posse. Ama quem adimira, respeita, conhece e aceita o outro tal qual ele realmente seja. Do contrário, amamos apenas a projeçao de nossos desejos e carencias de que vestimos o outro, tal qual nosso brinquedo particular, tal qual objeto de nosso desejo e prazer pessoal.

zan disse...

amar é complicado demais, amigos, mas mesmo sendo pouco, dá pro gasto... amo alguém que não me ama, mas só o fato de eu amá-la, já me basta...

Zé Vasconcelos disse...

Sublime.

Anônimo disse...

Definitivamente eu sou doente de amor!!! E não digo em tom de brincadeira não, é mto sério!!! Tenho passado mto mal desde minha separação, e isso só pode se doença...é uma dor física!!! Sinto um amor doentio por alguém que me largou!!! Como pode isso!!! Como posso amar alguém que me humilhou, me desprezou, me subestimou??? Alguém que me pisoteia e que hj diz não sentir nada, apenas desejo físico pq sou e estou gostosa (isso pq emagreci 18 kg por sofrer)?? Pq alguém sente prazer em ver o sofrimento do outro? E como ainda amar essa pessoa??? Não entendo mesmo! Só pode ser doença...amar o outro antes de si mesmo!!!!